quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

tempo pode até ser, mas relógio né relativo não.

eu costumo dividir a minha vida em antes e depois do relógio.

ninguém me parava na rua. sabe, não gosto de andar sozinha. porque aí, começo a me preocupar. é, se tem alguma coisa na minha cara, se meu cabelo tá bom, se o meu zíper não tá aberto, ou se as pessoas olham e veêm na minha cara de pateta quanta patetice tenho pra dar. aí fico me ajeitando toda. mas ninguém me reparava; e eu passava despercebida e quando chegava em casa, me olhava no espelho, só pra ter certeza mesmo de que não tinha nenhuma meleca na minha cara.
nunca gostei de perguntar coisas pros desconhecidos. não me sinto à vontade. e além do mais, existem pessoas más, que mentem, só pra te deixar de ser besta e aprender onde fica a almirante barroso. e também tem as patetas, que não sabem, te respondem como se soubessem e ainda por cima, te explicam detalhadamente, só pra ter certeza de que tu vais te perder. talvez elas sejam mais más que patetas.
não usava nada nos braços. no máximo umas pulseirinhas, vez ou outra. é que os meus braços são muito finos e, sabe, alguma coisa neles poderia acentuar toda essa palitez.
as horas? afinal, pra quê existem os relógios da big-ben? e aquele lá, no início da almirante que tem a propaganda da cerpa? dá até a temperatura ambiente! e os relógios distribuídos pelo colégio? será que só eu olho? e além do mais, quem nunca esticou o olho pra ver o relógio do outro?

e cara, não sabia que era tão inconveniente não ter relógio. descobri isso no dia do meu aniversário. as meninas fizeram vaquinha (!), só pra comprar um relógio pra mim. relógio, digital e ainda, azul. só pra eu não ter escolha de não usar. afinal, azul como todos sabem, se não a minha cor preferida, é a minha mais freqüente. aí passei a usar relógio todos os dias.
o relógio da carol quebrou. acredito que não tenha quebrado, na verdade, acho que foi mais por vingança. é, porque aí, ela passou a me perguntar as horas o tempo inteiro, de cinco em cinco minutos, que horas são, a gente já vai sair, quantos minutos faltam pra acabar, quantos minutos faltam pra começar, quanto tempo ele tá falando, blá, blá, blá. que coisa.
e eu já tinha relógio, não precisava mais ficar olhando pra todo canto, procurando horas. elas que me procuravam. e achavam.
passei a ser mais descontraída, mais jovial e despreocupada.
foi aí que as pessoas passaram a reparar. no meu cabelo, no meu zíper, na minha meleca. mas, principalmente, no meu relógio.
talvez o relógio seja um elo entre as pessoas. o objeto da socialização. ele por todos e todos por ele. e todos por quem tem um. eu que até então tinham receio de perguntar, descobri que outras pessoas não têm receio nenhum. e como são perguntadeiras! acho que as pessoas confiam mais nas pessoas de relógio: "vamos perguntar. não, não!! pra ele não. pergunta pr'aquela menina ali. a de relógio."
e é coisa séria isso. porque antes, não precisava dar informações que não sabia, por pura maldade ou bestice, ou os dois. agora, basta ficar cinco minutos na parada de ônibus: "você sabe se o Canudos passa por aqui? ah, sim, obrigada. à propósito, que horas são?"
acho que os outros pensam que os de relógio têm a sabedoria eterna. o controle não só do tempo, da vida, do bem, e do mal. são os esclarecidos, os auto-suficientes, os gênios, os elvis e madonnas, os alac unic, os guias espirituais, o cosmo, os nerds, os messias do novo Tempo.
bom, só sei que tá na hora de trocar o mostrador. tá todo arranhado, sabe?

2 comentários:

  1. Não entendi.
    O próximo ficou claro, esse eu não vejo relação...

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