domingo, 28 de maio de 2006

O Almoço

São duas da tarde e o almoço está posto.
A única coisa que me interessa está ali, fumegante, gritando por mim, sedenta de saliva e suco gástrico.
Duas e quinze.
Depois da primeira pratada de macarrão, a campainha toca.
É meu tio, bêbado crônico, que veio para almoçar conosco.
Senta-se à mesa, e escutamos as piadinhas usuais:
"Quero ver tu cumendo cum isso aí!" - diz ele para mim, referindo-se ao hashi sobre o macarrão.
"Não, nem sei usar direito" - digo eu, sem saco para mais explicações.
Volta-se para minha mãe, coitada, que tem que conversar sobre o sabor rústico do mocotó e gordas cabeças de peixes.
De novo, resgatando o que já estava morto - e comido -, diz:
"Come com isso aí, quero ver!"
"Não, melhor não" - já sem paciência, pensando no documentário sobre o stress de ontem à noite.
"Tu não vai comer? Come aí!"
"Hum" - enraivecida demais para responder educadamente.
Então, uma voz heróica diz:
"Não enxe o saco e come logo" - É, papai não assistiu a reportagem.
Silêncio.
Felicidade súbita. E mútua. (acho...)

...

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